segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

João da Canção - Cantor da Época da Ditadura Militar

Caro João da Canção (Cantor Desaparecido da Época do Regime Militar),
Meu nome é Heloísa Gonçalo Santarelli, sou uma estudante e atualmente estudo nas aulas de História sobre o Regime Militar. Me interessei pelo assunto, por isso estou escrevendo a você, imagino como pode ter sido rígidas as leis na época da Ditadura e que a proibição da censura nas letras das músicas foi dificil pra muitos cantores. Sei que a maioria dos cantores que foram expulsos do Brasil cantavam MPB, rock ou samba, e sei que esse era o seu caso. Queria muito saber como foi ser expulso do Brasil e ter que viver longe dos parentes e dos amigos. Caetano Veloso foi um dos cantores que foram expulsos do Brasil, pois escrevia musicas com censura e criticando o governo militar, ele até escreveu uma música sobre como foi viver fora do Brasil por um tempo, você também escreveu uma música como a dele, a Bye Bye Brasil? . Gostaria muito de saber sobre a sua saída do Brasil e a sua volta também. Hoje em dia aqui no Brasil, vivemos numa Democracia, que melhorou muito a vida da população e hoje todos podem se expressar ou com protestos ou até com músicas algo que não poderia ser feito na época do Regime Militar. Obrigada pela atenção e espero que você me responda com os principais detalhes do que você viveu nessa época.
Heloísa.                   
                
Resposta Fictícia   
Cara Heloísa,
Lhe escrevo aqui da França, o ano é 1978, ano em que eu faleci. Estive no primeiro festival de música levado adiante pelo Caetano Veloso, o vi ser vaiado ao criticar os cantores que não haviam se engajado na luta por um Brasil livre, mas eu o aplaudi, estava ao lado dele. Compus várias músicas, especialmente uma que demonstrava como os militares pareciam rádios, falavam altos, mas podiam ser desligados ou ainda trocar de estação. Claro que eles não gostaram muito disso.
Não queria sair do Brasil, só aceitei isso pois eles pegaram minha filha Maria, disseram que eu jamais a veria a não ser que aceitasse desaparecer de vez, quem me deu essa notícia foi Vera, minha mulher, com os olhos roxos e deles escorria lágrimas misturadas a pus da infecção. Ela perdeu a vista em uma surra, fizeram isso pois eu, quando fui amarrado e trancado, cantei ainda mais alto minha canção em plenos pulmões, veja que eu estava nu, após ter ficado horas mergulhado no gelo, e quando mais doía, mais alto eu cantava.
Minha chegada na França foi boa, temos um Brasil inteiro aqui, nos reunimos aos pés da Torre Eifel. Não sei se você sabe, aqui também tem uma estátua da liberdade, uma verdadeira, não falsa como a americana, que se diz libertadora, mas usa sua tocha para queimar quem discorda deles. Aqui temos a liberdade de verdade. Não voltei ao Brasil, por tolice que possa parecer, sobrevivi a dias de tortura e frio, mas não à pneumonia que peguei aqui em um domingo de neve. Mas apesar da minha dor e da escuridão de minha esposa, a voz de nossa filha entoando sons de liberdade nos fazem ter certeza de que o Brasil será um dia um lugar livre, onde os pobres terão direito, onde os ricos irão largar seu luxo para se unir a nós, em um só som, em prol da igualdade e do amor.

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